O delegado Luiz Carlos de Oliveira, afastado do cargo com outros três colegas em função de investigações de corrupção e recebimento de propina na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curitiba, foi nomeado para o Conselho da Polícia Civil pelo próprio governador Beto Richa (PSDB). A informação foi confirmada pela assessoria do governo estadual, nesta terça-feira (20).
Para o Ministério Público, a versão dele tem furos e o dinheiro, equivalente a mais de R$ 200 mil, tem outra origem. “Nós afirmamos que a origem desse dinheiro é dos delitos praticados por essa quadrilha que existia ali na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos”, diz o promotor Denilson Soares de Almeida, que cuida do caso.
O ex-delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius MIchelloto confirmou à promotoria que houve pressão para manter Oliveira no Conselho. “Eu mostro aqui, tá, uma mensagem que eu mandei no dia dos fatos, para o secretário [de Segurança Pública] Cid Vasques, tá. Dizendo, ‘secretário, eu estou o Luiz Carlos do Conselho, do Conselho da Polícia Civil’. E ele me diz o seguinte ‘não afaste do Conselho da Polícia Civil porque você está entrando em outra seara, que não é tua”, afirma delegacias após prisão de delegados
- Em entrevista à RPC TV, o delegado confirma o que disse aos promotores, mas não revela de quem partiu o pedido para a manutenção de Oliveira no Conselho. “Obviamente não foi uma preferência nossa, mas houve um pedido e obviamente isso foi atendido. Foi uma manifestação que eu prefiro não me manifestar”, conta.
Oliveira também confirmou que a indicação ao cargo veio do próprio governador. “Nós temos alguns cargos no Conselho. Três cargos que são vitalícios, dois cargos que são indicados pelo Secretário de Segurança e dois cargos pelo governador. Eu era um dos cargos indicados no conselho pelo governador”, conta.
Afastamento
Também nesta terça-feira, o atual delegado-geral da Polícia Civil, Riad Braga Farhat confirmou o afastamento das funções de todos os policiais envolvidos na denúncia do Gaeco. Além de Oliveira, os delegados Gerson Machado, Anderson Franco e Marco Antonio de Goes também são citados na investigação. Quanto a Oliveira, não foi informado se ele será impedido de retomar as funções.
No total, 23 pessoas foram denunciadas – quatro delegados, 15 investigadores, um agente de apoio e três comerciantes. Segundo as investigações comandada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao MP, havia um esquema na DFRV da capital paranaense de cobrança de propina paga por donos de lojas de autopeças e ferros-velhos para que policiais e delegados não denunciassem irregularidades como o comércio de peças roubadas e sem notas fiscais.
De acordo com o Gaeco, a média mensal de arrecadação com propina era de R$ 30 mil, chegando a R$ 50 mil em algumas ocasiões. Ainda conforme o Gaeco, em troca de pagamentos mensais, os policiais permitiam que as revendas desmontassem e vendessem as peças de carros roubados em Curitiba e Região Metropolitana. Todos os delegados envolvidos já haviam negado participação no esquema criminoso.
O delegado Cassiano Aufiero, que assumiu a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curitiba há 15 dias, trocou boa parte da equipe de 66 funcionários. Nesse período, 123 carros foram recuperados. “Momento de demonstrar que a polícia está aqui para servir e proteger", pontou Aufiero.
Para o delegado-geral, a troca de 12 investigadores é normal. “Todo delegado gosta de trabalhar com investigadores da sua confiança. Ele já trabalhava com esses investigadores há muito tempo. Ele, lógico, procurou afastar alguns investigadores que ele não confiava. Ele quis trazer com isso o seu método de trabalho. Iisso é natural, e é salutar esse tipo de mudança”.
Gerson Machado esteve à frente da DFRV de maio a setembro de 2012. Ele se defendeu das denúncias, alegando ter feito seu trabalho e prendendo ladrões no período em que esteve na delegacia. “Eu estou sendo pego para ‘boi de piranha’. Eu não sou esse bandido que o Gaeco está tentando me transformar”, disse Gerson Machado.
No depoimento, o ladrão de carros confirmou o pagamento aos agentes e contou que policiais iam até a loja pegar o dinheiro em troca do silêncio. “A hora que eles chegam lá, ele [dono da loja] fala assim: ‘Se esconda, se esconda...’ Aí vinha os polícia (sic) entrando lá pra dentro lá (sic). Para pegar o dinheiro lá”. O assaltante revelou que o dono do desmanche fez um acordo com a polícia para derrubar os índices de roubo de carro na capital do Paraná.
Operação Vortex
Em abril de 2013, o Gaeco e a Corregedoria da Polícia Civil cumpriram 18 mandados judiciais de busca e apreensão em Curitiba e na Região Metropolitana. Na época, três policiais civis foram presos em flagrante por porte de armas sem registro. Noventa e oito mil dólares e munição de uso restrito foram apreendidos com um dos detidos.
As investigações do Gaeco duraram cerca de oito meses com a intenção de apurar suposta corrupção da polícia e ilegalidades relacionadas a desmanche de carros. O foco da operação foi a Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos e o 6º Distrito Policial. Os mandados foram cumpridos nessas três unidades, em casas de policiais e comerciantes de ferro-velho e estabelecimentos de revenda de peças de veículos usadas.
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